O que significa quando alguém diz ser A2.2 em alemão?

O que significa quando alguém diz ser A2.2 em alemão?

No início de março começa aqui na Berlinguas nosso Curso Online de Alemão A2.2 para falantes do português.

 

O que significa exatamente quando alguém diz ser A2.2 em alemão? Qual é a diferença entre os níveis A, B e C?

 

A divisão dos níveis em A, B e C não é tão antiga assim. Trata-se de um documento intitulado Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas datado de 2001. Ele veio para substituir a divisão clássica dos níveis entre básico, intermediário e avançado.

 

É indiscutível que essa nova divisão tenha trazido muitos benefícios para o ensino e aprendizagem de idiomas no mundo todo. Mas também algumas desvantagens. Neste post trataremos exatamente disso.

 

  • + Ninguém é perfeito

 

Talvez o maior benefício do Quadro Europeu Comum de Referência para Línguas (QECR) foi reconhecer que ninguém é perfeito em tudo. Em outras palavras, nossa capacidade lingüística deve ser medida por meio de competências, que são ferramentas lingüísticas que utilizamos para nos comunicar e assim alcançarmos nossos objetivos. Se olharmos para a língua materna, nem todas as pessoas têm o mesmo grau de perfeição em todas as competências: alguns têm mais facilidade para falar, outros para escrever, etc.; alguns têm um vocabulário mais vasto, outros mais enxuto. Enfim, o grande benefício do QECR foi estabelecer metas lingüísticas mais curtas, o que deu ao aluno mais autonomia dentro do processo de aprendizagem. Hoje o aluno sabe que ele não precisa dominar todas as competências lingüísticas para dizer que domina um idioma estrangeiro. Ele sabe que é possível se aprofundar mais naquela competência que o ajudará a atingir suas metas comunicativas.  Logicamente que todas as competências são importantes e que precisamos atingir um nível de fluência em cada uma delas, mas não precisamos mais “tirar nota 10” em todas.

 

Como exemplo, vejam no fim deste post as metas comunicativas estipuladas pelo QECR para os níveis A2.1 e A2.2.

 

  • + Autonomia

 

Por falar em autonomia, jamais tivemos tantos alunos autodidatas como agora. Autodidatas sempre existiram, obviamente, mas com o QECR (e com a Internet) parece que o número aumentou consideravelmente nos últimos anos. O aluno sabe onde deve chegar e qual caminho percorrer. Ele tem acesso ao que já passou e ao que ainda está por vir. Ele também tem noção de que aquilo que é cobrado dele em um curso ou livro não extrapola àquilo que ele é capaz de produzir e entender.

O QECR é uma fonte da qual professores também se servem. Como o aluno, o professor sabe exatamente do que o aluno é capaz e até onde ele pode “forçar”. Preparar aulas parece ter ficado mais simples também, pois os materiais já vêm separados por módulos e as metas lingüísticas pré-estabelecidas.  

Em cursos, alunos e professores têm a certeza de que estão no lugar certo: homogeneidade de nível e as mesmas metas lingüísticas. Não que antigamente não era assim, mas as disparidades entre um aluno e outro eram bem maiores.  

 

  • + Economia de tempo e dinheiro

 

Indiscutivelmente uma das maiores vantagens do QECR. O QECR não define apenas as competências lingüísticas a serem adquiridas, senão a carga horária de cada módulo. Portanto, um aluno iniciante pode definir desde o início até qual nível pretende estudar e, por conseguinte, quanto tempo e dinheiro precisa investir pra isso. Três exemplos concretos. Para receber o Blue Card (permissão para trabalho) na Alemanha, a pessoa precisa comprovar o nível B1. Com base na estrutura de cursos online da Berlinguas são do A1.1. ao B1.2 216h e 1194 EUR (36h e 199 EUR para cada módulo estudado). Caso alguém queira fazer uma Ausbildung (curso técnico) na Alemanha, ele precisa comprovar ao menos o nível B2. Sendo assim, do A1.1 ao B2.2 são 344h e 1714 EUR no total. Mas se você pretende adquirir o visto de permanência pela união conjugal, basta comprovar o nível A1. São, assim, apenas 72h e 398 EUR de investimento no seu alemão.

Economia de tempo e dinheiro também se aplica aos testes oficiais de proficiência, como o telc Deutsch ou do Instituto Goethe. Saber de antemão qual certificado você precisa é condição importantíssima para não entrar no prejuízo.

 

  • + Língua é cultura e cultura é língua

 

O último mas não menos importante benefício do QECR é determinar os aspectos culturais também como uma competência a ser adquirida nos cursos de idiomas. É o que marca claramente a diferença entre um método baseado na gramática e tradução e outro essencialmente comunicativo. Não basta apenas encadear palavras numa ordem gramaticalmente correta, é preciso também entender, agir e reagir de acordo com a cultura e mentalidade vigentes no país do idioma a ser aprendido.

 

- Falta de profundidade

 

Como nem tudo são flores, chegou o momento de chamarmos a atenção para alguns problemas do QECR. O primeiro deles é a falta de profundidade. Se por um lado a divisão dos níveis por módulos trouxe mais autonomia para os alunos e mais praticidade para os professores, por outro ela transformou ambos em reféns de um sistema. Para concluir um módulo dentro da carga horária pré-estabelecida, o professor é muitas vezes obrigado a focar apenas nas atividades propostas no livro didático, o que culmina na falta de tempo e espaço nas aulas para desenvolver a criatividade e o pensamento crítico no aluno, além de não poder atender às necessidades específicas de cada um.

E aqueles professores, que ainda encontram uma brecha no sistema e procuram trazer um poema ou mesmo um artigo de jornal para a sala de aula, esbarram no medo de muitos alunos de achar que não será possível concluir o livro, bem como o módulo dentro do prazo, o que comprometerá seu desempenho no módulo seguinte.

Essa falta de profundidade é hoje confundida com a falta de qualidade dos cursos. Há quem diga que os cursos antigamente eram mais fortes e que os de hoje são um tanto fracos. Isso não deixa de ser verdade, não porque os cursos de hoje são piores, muito pelo contrário, mas porque o mundo moderno de hoje exige um novo sistema de ensino de línguas, em que professores e alunos precisam assumir uma postura e um papel diferentes daqueles apresentados pelas gerações anteriores.  

 

- O efeito videogame

 

Quem nunca comemorou o passar de uma fase num jogo de videogame? Quem é que não se acostuma fácil a esta emoção e deseja vivenciar mais dela? Ir até o fim, terminar o jogo, custe o que custar. Perseverança pura! Passar de fase significa, por outro lado, esquecer a fase anterior, nunca mais voltar atrás.

O QECR dividiu o processo nos níveis A, B e C, que por sua vez foram divididos em dois níveis menores (A1 e A2, B1 e B2, C1 e C2), e que por fim também foram mais uma vez divididos (A1.1 e A1.2). Essas divisões e subdivisões fazem com que o aluno enxergue o aprendizado de línguas como fases de um jogo, ou seja, uma visão muito fracionada, o que torna a aprendizagem contra produtiva, quando a observamos como um todo. Um idioma em si é como um jogo, não de videogame, mas de quebra-cabeças, em que uma peça do A1.1 se combina com outra do C1.2. O processo não é de modo algum linear.

Além disso, vale a pena mencionar que o intervalo entre as “fases” ou módulos é muito curto, o que permite que o aluno passe de fase mais vezes e mais rapidamente. E como (quase) ninguém mais se dá o luxo de repetir de fase (por uma questão de ego, de tempo ou financeira mesmo), o aluno arrasta consigo nos níveis mais avançados deficiências que custam muito esforço para serem corrigidas, até porque surgem nas fases seguintes outros novos desafios.

 

- O efeito férias

 

É certo que alguns alunos preferem fazer uma pausa antes de seguir com o próximo módulo. Muitos alegam cansaço e pouco tempo para assimilar o conteúdo. Com razão! O QECR pressupõe uma sala de aula apenas com alunos exemplares, que entendem tudo rapidamente, que não tem dúvidas ao fazer os exercícios, que já aplicam no dia a dia com toda confiança tudo aquilo que aprenderam até então, que nunca faltam às aulas e que fazem tudo o que o professor pede, como se estudar um idioma fosse a única atividade do dia. Sabemos que na prática isso não acontece devido a milhares de fatores pessoais e profissionais.

Quando o aluno resolve voltar, às vezes dois meses depois, ele quer dar seqüência exatamente onde parou. Digamos que ele tenha concluído o A2.1 e dois meses depois queira começar o A2.2. Se ele não usou a pausa para revisar o conteúdo, é complicado querer continuar a partir do módulo seguinte. O QECR é, porém, um forte argumento contra este tipo de afirmação. Considerando que eu já tenha visto o conteúdo programático do módulo e que disponha, mesmo que medianamente, das competências lingüísticas determinadas pelo QECR para aquele módulo, não há por que ter que o refazer.   

 

- O efeito roda viva

 

Vocês já pararam pra pensar no que acontece com os livros didáticos e dicionários quando há uma reforma ortográfica, por exemplo? Eles precisam ser reeditados e substituídos. Vocês já imaginaram quanto dinheiro as editoras movimentam com essas reedições? Ainda bem que essas reformas ortográficas não são anuais.

O QECR beneficiou e muito a indústria dos livros didáticos e materiais afins. Dividir e subdividir os níveis obrigou às editoras a publicar mais livros e a você a consumir mais também. Antigamente, o nível básico requeria três livros, o intermediário um e o avançado também um. Hoje, apenas o nível básico, que vai do A1.1 ao B1.2, requer 6 livros! E o mais interessante é que os livros do curso e de exercícios são comercializados em sua maioria separadamente.

Nos últimos anos, as editoras foram obrigadas a se reinventar duas vezes: primeiro ao introduzirem elementos multimídias, como livros com DVD, e depois ao se verem obrigadas a adaptar seus livros à internet (aplicativos, código qr, etc). Muitas editoras preferiram abandonar alguns livros, aliás, muito bons, para criar outros mais moderninhos.  

É interessante mencionar também que as editoras aproveitaram o QECR para desenvolverem materiais para públicos e necessidades bem específicos. Hoje se desenvolvem livros para quem estuda alemão num país de língua alemã e outros (embora com o mesmo nome) para quem estuda no estrangeiro. Ou então livros para quem estuda Alemão como Língua Estrangeira e outros para quem estuda Alemão como Segunda Língua.

É possível ver em todo esse desenvolvimento muitos aspectos positivos. O mais importante deles é poder escolher aquilo que mais atende às minhas necessidades como aluno. No entanto, o que queremos frisar aqui é o aspecto comercial das editoras, que passaram a produzir um livro a cada duas semanas, prezando mais pela quantidade que pela qualidade de seus produtos.

 

- O caos em meio a ordem

 

O QECR veio para estabelecer mais ordem ao ensino e aprendizado de idiomas. No entanto, a variedade de módulos, provas e livros é tão grande, que não sabemos exatamente se estamos fazendo a coisa certa. A confusão se alastra mais ainda quando entramos na internet. Muitas pessoas, embora sem qualificação adequada, se respaldam no QECR para lançar seus cursos e workshops, como se o QECR fosse um selo de controle de qualidade.     

 

Esperamos que tenha ficado claro o que significa dizer “eu sou A2.1” ou “eu sou B2.2”. Levamos 4h para escrever este texto, exclusivamente pra você!

 

Veja aqui quais são as metas para o nosso curso A2.2 e se inscreva já! Não deixe de fazer antes o teste de nivelamento da Berlinguas. Ele é online, gratuito e o resultado sai na hora.

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