O português pode servir de base para se aprender alemão?

O português pode servir de base para se aprender alemão?

Muita gente acredita que falantes do inglês têm inúmeras vantagens ao aprender alemão, pois ambas as línguas são indogermânicas. Mas além das semelhanças de significado e pronúncia de algumas palavras, essas línguas têm muito pouco a ver uma com a outra. Ao contrário do português!

 

Neste post apresentamos alguns pontos de interseccção entre as gramáticas do alemão e do português. Nosso intuito não é discutir se são línguas fáceis ou difíceis, senão mostrar a você que há de fato semelhanças gramaticais que jogam a seu favor, falante do português, o que também faz jus aos nossos cursos de alemão voltados para falantes do português, mesmo em níveis mais avançados (a Berlinguas oferece no momento um curso de alemão C1.1 para falantes do português, por exemplo).

 

Aqueles que participarem do nosso curso de alemão A1.1 com início na próxima terça-feira às 18.30h perceberam logo de cara grandes semelhanças. A primeira delas  diz respeito ao gênero das palavras. Os artigos DER e DIE correspondem aos artigos O e A, o que facilita entender como usar os pronomes pessoais ER (ele) e SIE (ela), principalmente para denominar coisas. Ao contrário do inglês, onde tudo é THE e IT, o alemão e o português chamam um computador de ELE e uma garrafa de ELA.

 

É também no nível A1.1 que o aluno precisa enteder o que é e como se conjuga verbos regulares e irregulares. Um verbo regular se deixa reconhecer pela invariação de sua raiz em todos os tempos verbais. O verbo COMER é em português regular, pois sua raiz COM permanece a mesma em todos os tempos verbais (presente, pretérito, futuro etc), enquanto que FAZER é irregular. No alemão acontece exatamente o contrário: o verbo ESSEN (comer) mesmo no presente já sofre alteração (ich esse, du isst  - eu como, tu comes), enquanto que o verbo MACHEN (fazer), ou melhor, sua raiz permance sempre a mesma MACH. Em todo caso, em ambas as línguas é possível reconhecer rapidamente se um verbo é regular ou não. No inglês, você só entende que um verbo é irregular quando o conjugar no pretérito (I eat, you eat – I ate, you ate).

 

Mesmo para entender que os verbos alemães são conjugáveis é mais fácil para falantes do português. Diferente dos verbos em inglês, que recebem algo apenas na terceira pessoa do singular (I eat, she eats), todas as pessoas tanto em alemão quanto em português recebem uma terminação diferente. Conjugue os verbos COMER em português e ESSEN em alemão e tire você mesmo a prova.

 

Também não demora muito para que o aluno do A1.1 se depare com dois dos quatro casos do alemão: com o nominativo e o acusativo. ICH LIEBE DICH é uma das primeiras frases em que o aluno percebe a presença evidente do caso acusativo. Por que não dizemos ICH LIEBE DU? Porque o verbo LIEBEN precisa de dois complementos, isto é, um sujeito e um objeto. O sujeito é o nominativo e o objeto é o acusativo. Portanto, o pronome DU só pode fazer a função de sujeito, enquanto acusativo DU se transforma em DICH. Se abríssemos agora um livro de gramática da língua portuguesa, estaríamos no capítulo de regência verbal, o que nos remete aos termos sujeito e predicado, tal como a objeto direto e indireto. E, pronto, cá estamos nós estabelecendo uma relação entre o acusativo e o objeto direto, ou mesmo entre o dativo (terceiro caso do alemão) e o objeto indireto. É verdade que é possível fazer uma análise sintática das frases em inglês partindo do mesmo princípio, no entanto, não com a mesma ênfase que as gramáticas alemã e portuguesa dão à regência verbal.

 

Para encerrar, dentre muitos outros pontos de intersecção entre as gramáticas do alemão e do português (caso genitivo, orações relativas, voz passiva, verbos com preposições fixas etc), os verbos reflexivos parecem ser o ponto de maior vantagem. Alunos, cuja língua materna é o inglês, tem problemas para entender a lógica por trás destes verbos. Teoricamente, reflexivo é o verbo, cujo objeto sofre a ação praticada pelo próprio sujeito: alguém diante do espelho vê a si mesmo ou vê-se. EU LAVO-ME, EU PENTEIO-ME, EU VEJO-ME possuem em alemão tradução direta: ICH WASCHE MICH, ICH KÄMME MICH, ICH SEHE MICH. A teoria dos verbos reflexivos, porém, vai muito mais além que a ideia do reflexo, e é exatamente neste ponto que os falantes do inglês tem maior dificuldade. Alguns verbos são simplesmente reflexivos, mesmo quando o objeto da frase não sofre a ação praticada por ele mesmo. DeepL, por exemplo, traduz ICH FREUE MICH como I AM GLAD, I AM HAPPY, I AM PLEASED ou I AM DELIGHTED. O falante do português consegue traduzir e compreender a estrutura gramatical sem muito esforço e também sem qualquer tipo de distorção do significado: ICH FREUE MICH = EU ALEGRO-ME.

 

Após traçarmos um breve paralelo entre os três idiomas, podemos afirmar que aprender alemão com base no inglês pode ser vantajoso naquilo que diz respeito à aquisição e expansão do vocabulário. Alguns etimólogos afirmam que um terço das palavras inglesas é de origem germânica. Contudo, mesmo neste quesito, os falantes do português não ficam para trás, já que a língua alemã também se serve de muitas palavras de origem latina e grega. Mas é no campo da gramática que os falantes do português (e também de outras línguas latinas) realmente levam vantagem. Não se trata aqui de traduzir frases, até porque cada idioma tem as suas especificidades, senão entender e visualizar a formção e o funcionamento das estruturas gramaticais, que em português e alemão realmente se assemelham.

 

E você, falante do português, pense nisso ao procurar seu próximo curso de alemão. Pense nos cursos da Berlinguas!

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