Por que usamos mais o Perfekt do que o Präteritum?

Por que usamos mais o Perfekt do que o Präteritum?

Esta é uma das perguntas mais feitas por alunos de alemão. Seria muito mais cômodo dizer “ich spielte” do que “ich habe gespielt”. Ademais, nós não teríamos mais o grande problema em ter que saber se o verbo auxiliar é “haben” ou “sein”. 

Quando perguntados, professores de alemão atem-se apenas a dizer que ambas as formas tem o mesmo significado e que, enquanto o Perfekt é mais usado na linguagem falada, o Präteritum é voltado para a linguagem escrita. Obviamente que a diferença entre os dois vai muito além desta simples definição. Sobre o passado descrito com o Perfekt pode-se dizer que se trata de um acontecimento que pode ser dado como por encerrado, por isso é perfeito, porém ainda apresenta uma certa ligação com o tempo presente do falante. Já o Präteritum descreve um acontecimento passado incompleto, de caráter mais repetitivo e duradouro. É por isso que este tempo verbal também é conhecido como Imperfekt ou imperfeito. Em português, apenas para que a diferença entre os dois não fique muito confusa, nós poderíamos dizer que “eu joguei” seria uma forma do Perfekt e “eu jogava” uma forma do Präteritum.  

O fato do Perfekt descrever um acontecimento completo e mais recente já é um bom motivo para que este tempo verbal se perpetuasse na linguagem falada. No entanto, na opinião de alguns linguístas e etimólogos, este não é o único. 

Por volta de 1439, o alemão Johannes Gutenberg desenvolveu um sistema mecânico de tipos móveis, hoje conhecido como impressão gráfica. Sua invenção foi um marcante aperfeiçoamento nos manuscritos, revolucionando assim o modo de fazer livros na Europa. Sua obra maior, a impressão da Bíblia, foi aclamada pela sua alta estética e qualidade técnica.
É preciso considerar, que Gutenberg teve que se associar a comerciantes da época com o intuito de angariar fundos para o financiamento de seus projetos. Como garantia, Gutenberg ofereceu-lhes uma parcela dos lucros obtidos na comercialização de suas invenções e de suas obras impressas. Os manuscritos e livros mais importantes impressos por Gutenberg foram submetidos a um critério fundamental: eles deveriam ser redigidos no tempo verbal Perfekt. Vale lembrar que já naquela época, Präteritum e Perfekt eram tratadas como formas correlatas. Segundo os estudiosos de Gutenberg, tratou-se de uma técnica para tornar seus livros mais volumosos e com isso mais imponentes, o que justificaria os altos valores cobrados na sua comercialização. Embora questionável, essa medida contribuiu para que o uso do Perfekt se difundisse cada vez mais na linguagem falada. Como naquela época o domínio da leitura e da escrita era reservado apenas aos sábios e letrados, o falante comum passou a entender que o uso do Perfekt estava em conformidade com a norma da língua padrão culta. 

Em 1650, o também alemão Timotheus Ritzsch publicou o primeiro jornal conhecido em toda a Alemanha. Com isso, mais uma vez, a gramática alemã teve que se adaptar à questões gráficas e comerciais da época. Por uma questão meramente de espaço, os textos contidos nas capas dos principais jornais precisavam ser o mais compacto possível. Por conseguinte, o uso do Perfekt na língua escrita tornou-se insustentável. Em 1674, o jornalista e editor Ferdinand Aprilscherz sugeriu que o Perfekt fosse substituído em textos jornalísticos pelo até então esquecido Präteritum. 

Esta mudança de paradigma no universo escrito, diferentemente dos tempos de Gutenberg, não foi forte o suficiente para que o Präteritum suplantasse o Perfekt na linguagem falada. Por acaso, você já ouviu algum nativo dizer em uma conversa informal que ele ontem à noite “aß eine leckere Pizza und trank ein kaltes Bier”? Sendo assim, os professores de alemão de hoje em dia não estão mentido quando afirmam que o “Präteritum é mais para ler e escrever” e o “Perfekt para falar”. 

Lieber Herr Gutenberg! Obrigado por essa pegadinha de primeiro de abril! É bem verdade que o texto traz informações corretas sobre a real diferença entre os dois tempos verbais, bem como as afirmações feitas pelos professores de alemão, porém, boa parte dos relatos envolvendo os três nomes não é verídica.

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